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domingo, 6 de dezembro de 2015

Iten - Home of Champions - week IV

A iniciar a minha penúltima semana com mais um treino logo bem cedo pela manhã - uma manhã um pouco cinzenta com bastante nevoeiro e vento - lá fomos nós para um percurso de "sobe e desce". Não é que, a certa altura, temos de interromper o nosso treino por breves momentos? Uma manada de vacas estava a obstruir o nosso caminho. Já não era a primeira vez que este tipo de situação acontecia, mas das outras vezes, com algum cuidado, conseguíamos passar em modo de corrida lenta. Já desta era mais difícil.

O Charlie Grice tem sentido algumas dores num pé devido às irregularidades que as estradas apresentam, pois são todas em terra batida. Por vezes está um sol forte, depois chove muito e isso causa buracos no piso, o que para o treino é complicado. Desta vez os meus colegas acabaram um pouco mais cedo do que eu e eu fiz um treino mais longo sozinho.
Da parte da tarde fomos dar uma volta até algumas lojas de Iten, basicamente em "lojas de corrida". Fui eu, o Charlie e o fisioterapeuta de Inglaterra (Alex), mais umas raparigas turcas. Uns queriam comprar uns ténis, o Alex queria alguma roupa de corrida do Kenya e foi giro vê-los a regatear os preços com a dona da loja. As raparigas, que praticamente não sabem falar inglês, até usavam o telemóvel para mostrar à dona quanto queriam pagar: punham os números na calculadora e mostravam, depois era a dona a emendar os números (ahah), cada um a puxar para o seu lado, uma situação muito engraçada. Enquanto eles continuavam a discutir, eu fui a uma outra loja de ténis, mas eram todos em segundo mão (ou pé)! Aproveitei para tirar uma foto, pois nunca tinha visto uma loja assim na minha vida!




Na vinda, aproveitei para parar numa barraca aqui perto do centro, onde fazem pulseiras personalizadas e têm também algumas recordações para venda; então mandei fazer a minha! Terça-feira foi dia de fazer séries e, mais uma vez, a pista de terra batida Kamariny Stadium estava sobrelotada, com grupos de 15/20 atletas. Chegámos e, desta vez, tinha comigo o meu telemóvel para registar o momento!

Tirei algumas fotos e até fiz um vídeo engraçado, onde mostro uma pequena parte do espírito que se vive nesta pista. Posso utilizar tudo e mais alguma coisa para tentar descrever, mas é impossível!


E se fores atleta e quiseres perceber, não fiques em casa, precisas mesmo de cá vir, viver, sentir e no fim sair daqui com uma mentalidade completamente renovada
A manhã esteve alegre pois, para além do ambiente vivido, esteve sempre um sol bastante bom. É claro que depois do nosso treino de séries fomos directos para a piscina, relaxar os músculos e apanhar algum sol ao som das músicas que os ingleses punham nas suas colunas portáteis. Da parte da tarde fui buscar a pulseira personalizada que tinha encomendado no dia anterior. Conseguem tentar imaginar como pedi que ficasse? Então cá vai, uma pulseira com o nome pelo qual mais sou reconhecido no mundo do atletismo "ROLIM", com a bandeira de Portugal e, claro, com a bandeira do Quénia! Pedi um rebordo dourado para ficar mais engraçado e digam-me lá se não ficou brutal?


Começou a chover e optei por descansar da parte da tarde, pois o treino da parte da manhã tinha sido forte e deixou-me bastante cansado. Fomos jogar um pouco de ping-pong para ocupar a tarde com boa disposição!
Quarta-feira e, novamente, mais um treino bi-diário para fazer (era bom que fosse passear ou fazer um safari, mas estou aqui é para treinar) e lá fomos nós fazer uma volta pelo meio do campo numa estrada de terra batida, e desta vez o Charlie já tinha recuperado e tivemos mais uma companhia - de um Mexicano (Daniel) que já está cá há 3 meses e ainda vai ficar até Fevereiro! Eu dava em maluco. Está bem que isto é bom, temos qualidade de vida para treinar e descansar, mas minha rica caminha, que me espera em Portugal! 
A primeira parte do treino era sempre a descer, uma maravilha! Sem fazer quase esforço nenhum, lá íamos nós a bom ritmo. O pior era quando começavam as subidas, de 1 a 2 Km, em que só vemos metade delas e pensamos que acaba lá ao fundo, mas quando lá chegamos há uma curva e a subida continua. Nas nossas cabeças só está um pensamento: quando é que chegamos à "main road" (estrada de alcatrão que liga Iten a Eldoret)? Da parte da tarde estava bom tempo, então aproveitei para lavar a roupa (já o tinha feito antes, não foi só agora!), e como é esta minha tarefa tão divertida? Nada melhor do que lavar roupa no chuveiro, com um sabão amarelo que eles utilizam para várias coisas. Lá estou eu a esfregar a roupa do lado de fora do chuveiro, joelhos no chão, a tentar tirar aquela terra vermelha das meias e da roupa! Não é nada fácil, pois a terra teima em não sair, os joelhos começam a doer como tudo... acho que, na minha última semana, vou levar uns quilinhos de terra a mais na minha mala para Portugal!

Na quinta-feira fomos fazer séries pela manhã mas, como choveu na noite anterior, a pista de terra batida estava com alguma lama, o que tornou um pouco impossível fazer séries nela, então fomos para a pista de tartan, desta vez só 3 atletas (eu, o Henry e a Adelle), mais 2 treinadores de bicicleta. Fizemos todos um excelente treino e, hoje, foi o dia em que me senti pior no final. Doía-me as pernas, a cabeça parecia inchada e os braços com mais um quilo cada um. Esta é a penúltima semana e os treinos começam a ser mais intensos. 




Mas como é preciso "não abusar a toda a hora" e controlar o cansaço, da parte da tarde fomos fazer um pouco de corrida contínua, a ritmo moderado/lento. No final deste dia, só conseguia pensar "só falta mais uma semana de treinos", tenho o voo marcado para a outra sexta-feira, por isso já não conta! Apesar de esta ser uma experiência inesquecível e certamente que gostaria de a repetir, as saudades que sinto da nossa terrinha são imensas. Às vezes vejo as pessoas queixarem-se a toda a hora que "Portugal isto, Portugal aquilo", mas de todos os países que já visitei, este é mesmo o melhor. O atletismo têm-me dado a oportunidade de conhecer mais de metade da Europa (só agora saí do Continente) e, pela minha experiência, não há nada como a nossa comida, não há um clima tão bom como o nosso, não há nada como as nossas praias, resumindo, não há nada como a minha terrinha! Na sexta-feira, a começar logo pela manhã, fiz um treino de corrida contínua bem cedinho, ainda sob um nevoeiro cerrado - como na maior parte das manhãs, e fomos até à pista de terra batida onde não se conseguia ver o outro lado da pista! No regresso, logo à saída da pista, temos uma rampa que já está marcada como a pior rampa de Iten e não há uma única vez que a suba sem pensar mal dela, pois "rebenta" literalmente comigo. E, por azar, comecei a sentir uma dor na perna esquerda, junto à virilha, que não sei se foi devido à subida ou se ao treino do dia anterior ter sido forte e ter provocado alguma mazela, mas o que sei é que sentia a dor mais intensa quando fazia subidas. A partir daquele momento, optei assim por descansar da parte da tarde. Parece ser bom ter uma tarde de descanso, mas psicologicamente leva uma pessoa um pouco abaixo estar a tarde toda a pensar naquela dor, com receio que ela se mantenha e te impeça de treinar no dia seguinte, etc. Tentei repousar ao máximo e usei algumas vezes um aparelho de electro-estimulação "compex" que a Federação me emprestou, e que sempre dá para tentar remediar algum azar que aconteça!


Felizmente, no sábado, senti-me bem no aquecimento que fizemos até à pista de terra batida. Já não sentia dores na perna, o que me motivou bastante para as séries. Desta vez era só eu e o Henry, com a companhia do treinador Joel. O treinador Craig (do Henry), já em Inglaterra, enviou-nos o treino no dia anterior, e que treino! Era um treino longo e intenso, que o Henry não aguentou nem metade. Tínhamos combinado puxar as séries à vez, mas à terceira já sentia a respiração ofegante dele e comecei a perceber que ele não estava em condições. Ajudei-o e continuei a puxar - ele só tinha que manter o ritmo atrás de mim, mas chegou a uma altura que encostou, e eu também já sentia alguma dificuldade, pois o treino não era nada fácil, mas acabei por conseguir finalizá-lo. A pista estava deserta, o que achámos bastante estranho, mas pensámos que seria o dia de treino longo dos kenyanos, mas mais tarde viemos a saber que houve uma prova de 10 Km na qual o Asbel Kiprop foi o vencedor. Perdi a oportunidade de o ver correr ao vivo, este gigante dos 1500m que ganhou recentemente o mundial!
Podes espreitar aqui o vídeo que também carreguei na minha página oficial do Facebook:

Hoje a pista era só minha!!! Estás ansioso por saber como correu esta semana??Amanhã haverá um novo resumo!
Posted by Emanuel Rolim - Página Oficial on Saturday, December 5, 2015


A seguir ao almoço ficou uma tarde espetacular e aproveitei para apanhar um pouco de sol. Nem meia hora aguentei, pois estava um calor abrasador! Devido ao treino ter sido bastante intenso da parte da manhã, resolvi descansar para recuperar para o treino longo do dia seguinte, então passámos uma boa parte da tarde a jogar ping-pong, em duplas. Desta vez era eu, o Dan, o Spencer e o filho do treinador Jon, o Finley. Jogamos várias partidas e fomos trocando de equipas entre nós. Praticamente todos os jogos foram renhidos até ao fim, pelo que ninguém saiu desanimado. No final ninguém sabia se tinha ganho mais vezes do que perdido; foi acima de tudo uma boa tarde (competitiva) de ping-pong! Domingo de manhã é, mais uma vez, dia de treino longo, o último treino longo aqui no Quénia! Fomos novamente para o percurso da semana passada: saímos do centro a correr, direitos a Iten, e depois virámos para uma estrada de terra batida que vai dar ao parque de girafas. Mal entrámos na estrada de terra batida, vimos que ia ser um treino interessante, tudo cheio de lama devido à chuva que tinha caído no dia anterior. Mais à frente tinha um riacho a atravessar a estrada, onde a semana passada - com um salto - conseguimos facilmente passar. Mas desta vez tivemos de passar mesmo pelo meio da água!

Chegava quase aos joelhos e foi uma sorte não ter caído. Já mesmo nas últimas passadas dentro de água escorreguei um pouco, pois não via onde punha os pés. Passando o rio tínhamos uma enorme rampa, de aproximadamente 2 Km sempre a subir. Com os ténis cheios de lama, cada perna pesava pelo menos mais 1 Kg (ou pelo menos era essa a sensação) e lá continuámos nós, até que a lama foi saltando, os ténis secando e os quilómetros passando. Eu e o Charlie fomos os que fizemos mais Km's e chegámos perto do parque das girafas, entrámos na carrinha que nos acompanhou ao longo do percurso e consegui descobrir mais duas girafas - estavam bem longe mas consegui distingui-las da vegetação! O parque das girafas é fácil de identificar, pois tem uma montanha muito íngreme.

A tarde foi tranquila, passada entre a piscina, o sol e os jogos de ping-pong - relaxar ao máximo para finalizar em grande mais uma semana! Com isto, falta sensivelmente uma semana, mal posso esperar para chegar a casa e (nunca pensei em dizer isto) comer um bom peixe grelhado! Não gostava nada, mas de há uns anos para cá fui-me habituando a comer de vez em quando, e agora (durante um mês sem comer peixe) é uma sensação mesmo estranha. Começo a enjoar desta comida, é boa mas é sempre o mesmo. Neste tempo todo comemos peixe só duas vezes e devia ser de água doce; o sabor era muito estranho! Tenho saudades dos meus cozinhados, das minhas sobremesas e claro, da comida da minha mãe! No próximo sábado ao jantar já estarei a matar todas essas saudades...
Um abraço diretamente de Iten - Quénia.