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domingo, 27 de dezembro de 2015

Boas festas e um 2016 cheio de conquistas!

Olá amigos,
O tempo voa e o meu regresso de Iten - Kénya já foi há bastante tempo! Depois disso já corri a São Silvestre da Lourinhã. Como habitualmente gosto de voltar a casa e estar com quem eu gosto e me viu crescer para o atletismo. Foi um prazer correr nas ruas da Lourinhã, obrigado pelo apoio!

Ontem corri na El Corte Inglés São Silvestre de Lisboa, onde consegui um difícil mas honroso 5º lugar. Foi uma prova com grandes andamentos iniciais e não consegui manter-me junto dos primeiros até ao final, como desejava. Ainda assim, foi um bom resultado para uma competição que não é a minha especialidade.   

Foi uma grande festa do desporto e do atletismo. Parabéns a todos os que participaram e aplaudiram nas ruas de Lisboa! Quando se junta, competição, festa e amizade, só pode dar bom resultado! Parabéns ao Hugo Miguel Sousa e à sua equipa HMS Sports pela excelente organização, que conseguiu juntar todos estes atributos e ainda juntou a componente promoção no seu melhor com uma transmissão direta em na Bola TV o que ajudará na promoção desta modalidade que todos amamos.



Boas festas a todos!

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Iten - Home of Champions - week V (last week)

A última semana na Home of Champions começou com mais um treino pelas 8h (5h em Portugal), acompanhado do já conhecido nevoeiro cerrado. Fomos fazer uma das voltas habituais, começando por descer durante algum tempo e regressar sempre a subir. Os ritmos são lentos e as sensações não são as melhores - acho que o esforço que fazemos aqui, se fosse realizado a correr em Portugal, traduzia-se em grandes treinos. Foi dia de bi-diário, mas da parte da tarde uma corrida muito fácil, para recuperar dos treinos anteriores e com vista ao treino do dia seguinte - íamos correr, pela primeira vez, com os quenianos.
Na terça-feira lá fomos nós para o grande treino com os quenianos. Saímos do centro a correr para fazer o aquecimento e fomos direitos ao centro de Iten. Virámos à esquerda para ir ter ao local da "partida" e começamos a ver vários quenianos a correr. Íamos a descer e continuámos a ver muitos quenianos a correr pela estrada fora - aquilo parecia mais as caminhadas a Fátima, onde se vê constantemente pessoas na berma da estrada, mas aqui iam todos a correr! 
Lá chegámos ao local. Nunca vi tantos atletas juntos para treinar! Éramos, à vontade, mais de 100 atletas, entre homens e mulheres. Brancos éramos uns 5/6: eu, o Charlie e o Robbie, mais alguns turcos. Juntámo-nos todos no início de uma estrada de terra batida e um dos quenianos subiu a uma pedra que estava de lado, mandou o pessoal fazer pouco barulho e explicou o treino - era fartleck de 1 minuto em corrida rápida e outro minuto de corrida lenta! 
Partimos, começando com o minuto lento e depois todos a correr que nem uns desalmados - eu sprintava e, mal sabia quando é que acabava, passavam quenianos por mim a um ritmo louco, eu mal conseguia ver onde punha os pés e com a estrada irregular às vezes dava alguns maus jeitos ao pé (felizmente não torci ao ponto de me aleijar, mas tive bastante receio que pudesse acontecer). Acabado o minuto rápido, no descanso, os que estavam mais atrás continuavam a correr para se aproximarem dos da frente e eu, no meio deles, comecei a sentir-me apertado, no meio de 100 pessoas num espaço apertado de tal forma que os meus óculos de sol começaram a embaciar com tanto calor humano!? Nunca me tinha acontecido tal coisa. 
Ouviu-se o apito de um relógio e todos começaram a correr rápido novamente. Apanhámos pela frente uma enorme subida, mais uma vez a ser ultrapassado por todos os lados mas também ultrapassava alguns quenianos - não me ficava atrás! O pior é que o descanso era uma corrida normal, não dava sequer para recuperar em condições, mais o sobe e desce, estradas irregulares, é claro que "dei o estoiro" (deve ter sido tão grande que, se estivessem com atenção, tinham-no ouvido em Portugal, eheh). 
Fiz metade do treino e comecei a ser ultrapassado por mulheres. Vi logo que estava mesmo mal e, então, encostei um pouco mais à frente. Mesmo assim fiquei contente porque estavam continuamente quenianos a passar por mim, afinal tinha feito um treino bom; e apesar de querer mais, não estava minimamente consciente da dificuldade que era! Fui a andar um bom bocado, até que fiquei completamente sozinho - tinha uma vaga noção de onde estava, mas ao mesmo tempo perdido, consegui ver uma "torre antena" e sabia que ficava no centro de Iten. Orientei-me também pelo monte do parque das girafas e fui tranquilamente ter ao HATC (high altitude training center). Da parte da tarde estava completamente de rastos, então optei por descansar. Sentia dores no corpo todo, muita sonolência, estava completamente esgotado!
Quarta-feira, ainda bastante cansado devido ao dia anterior mas com a motivação de serem os últimos dias de treino, lá fomos nós para mais um treino - íamos sensivelmente a meio quando passamos por um grupo enorme de quenianos. Pensámos logo no dia anterior: seriam os mesmos atletas? É provável, mas o grupo era metade do do dia anterior (ou nem tanto), mesmo assim era enorme! Os meus colegas, cansados, decidiram parar um pouco mais cedo, pois estavam a sentir na pele o treino do dia anterior, e eu por não o ter concluído (não quer dizer que não estivesse cansado), pensei em fazer mais um pouco de tempo. 
À tarde, a nossa comitiva ficou ainda mais reduzida. Mais uma grande parte dos ingleses voltaram para as suas terras, sobrando eu, o Charlie Grice e o Robbie. Eles vão ficar mais uma semana. E, claro, o mexicano e o americano que vão ficar até fevereiro! Despedidas e mais despedidas e lá foram eles. Nós fomos preparar-nos para mais um treino, tranquilo, a ritmo confortável, num percurso junto à pista de terra batida - nada de especial, tirando a parte em que vimos dois homens à luta, um deles com um pau com pelo menos 1 metro de comprimento. Nós reagimos todos de igual maneira, acelerando o ritmo sem nos pronunciarmos sobre o assunto. Só uns metros à frente falámos sobre o que vimos!
Na quinta-feira era o dia de descanso do Charlie e do Robbie, mas como eu me ia embora no dia seguinte, tinha de treinar! O Charlie combinou com o mexicano irem até à cidade de Eldoret, ter um dia diferente e aproveitar para fazer umas compras, mas eu resolvi ficar pelo centro e passar a manhã no ginásio. Comecei por fazer bicicleta e depois alguns exercícios e alongamentos. Aproveitei o dia bom para passar algum tempo na piscina e "trabalhar" para o bronze - de Portugal diziam-me que o tempo estava a arrefecer e já não estava tão bom como há um mês atrás, altura em que eu cheguei ao Quénia e estava mais frio aqui do que em Portugal! Agora as coisas estavam a mudar - daqui a nada é Verão no Quénia e já se nota os dias a melhorar (já não chove tanto), o que por um lado é mau, pois quando íamos treinar e passava algum carro por nós, levantava uma imensa poeira no ar - às vezes até conseguíamos sentir areia nos dentes, porque não conseguíamos respirar pelo nariz!
Da parte da tarde aproveitei para comprar umas lembranças no Olympics Corner, onde tinha já comprado a minha pulseira personalizada. Esta "barraca" ficava logo à saída do centro, junto à "Main Road", onde está aquele pórtico a dar as boas-vindas a quem chega: "WELCOME TO ITEN HOME OF CHAMPIONS" (assim está escrito). Aqui, aproveitei para gravar um vídeo a desejar Bom Natal a todos!

Nisto, umas crianças começaram a meter-se comigo, sempre com o "how are you?" sem saber responder quando lhes pergunto o mesmo - ultimamente aprendi algumas palavras como "jambo" que significa "olá", "habari?" quando queres perguntar se está tudo bem e "misouri" que quer dizer "estou bem". Ou seja, quando eles perguntavam como estava, eu já respondia "misouri". Estava eu a voltar para o centro quando uma das crianças passa por mim a correr e faz a roda mesmo à minha frente. Achei engraçado e lembrei-me que tinha um pacote de bolachas Maria de reserva para quando tivesse fome, mas como já era o último dia decidi partilhar com eles. Disse-lhes para esperarem por mim enquanto eu ia ao quarto. Voltei e trouxe o pacote dentro do bolso da minha "sweat" e, antes de o partilhar, perguntei se sabiam o significado de dividir. 
Eles não estavam a perceber e, por gestos e com calma lá entenderam. Queria oferecer de maneira a que partilhassem de igual forma, então abri o pacote e dei a um deles, a primeira coisa que ele fez foi distribuir pelos amigos e tirou para ele no final. Pensei para mim mesmo: "uau, se calhar nem precisava de ter explicado o que significava dividir e partilhar de igual forma". Pedi-lhes para tirar uma foto para ficar com o registo e cada vez que olho para a foto consigo presenciar a felicidade deles naquele momento! 


Antes de me ir embora, um deles virou-se para mim e disse: "see, see". Um dos seus colegas juntou as mãos, ele descalço mandou uma corrida em direcção ao amigo e, com o apoio, fez um mortal para trás! Eu não hesitei: "do it again" - provavelmente ele não percebia o que disse mas como reparou que estava com ar admirado e mostrei o telemóvel para filmar percebeu logo. Então repetiu a proeza e eu fiquei com a gravação destes artistas!


Na sexta-feira fomos até à pista, para o Charlie fazer o treino de séries (eu não fiz porque já ia ter uma longa viagem pela frente, que me ia deixar de rastos) - e como o treinador dele já estava por Inglaterra, pediu ajuda a um treinador turco (Dennis), que já conhecíamos, para controlar os tempos dele e do Robbie. Fomos então aquecer até à pista de terra batida, onde eles pararam para fazer alguns exercícios, e eu continuei a minha corrida contínua a ritmo lento. Quando eles começaram o treino, eu fui o "camera man" deles, com a gopro que eles tinham. Filmei e tirei fotos do treino, ficaram brutais! 



No final do treino fomos uma última vez à rocha que tem vista para Rift Valley - fiz questão de lá ir uma última vez, a este sítio magnífico onde podemos apreciar da melhor maneira aquele vale. Ficámos meia hora a apreciar a beleza daquela vista! Tirámos umas últimas fotos e fomos embora... 



Almoçar e jogar um último jogo de ping-pong.
Acabei de arrumar as minhas coisas e ainda tirei uma última foto com os funcionários do HATC e com o Charlie, Robbie e Daniel. 


Na viagem até ao Aeroporto passei por Eldoret, onde consegui ver durante o dia a confusão que era aquela cidade, os carros e motas sem regras de trânsito, as pessoas ocupadas a fazer as suas coisas de um lado para o outro, vi um género de uma feira junto à estrada onde as coisas estavam todas espalhadas pelo chão, mobília à venda na rua junto à estrada principal, até vi uma mota transportar um sofá!


Mais uma longa viagem à minha espera.
A primeira até foi rápida, de Eldoret até Nairobi o voo durava cerca de 40 min e foi praticamente levantar voo, comer um snack que ofereceram e aterrar. Já em Nairobi a conversa era outra, estive 4h a fazer escala, aproveitei para comprar uns postais e ler um livro, seguidamente apanhei o avião que seguia até ao Dubai por mais 5h, deu para ver 2 filmes, jantar e ainda ouvir música. 
Escala no Dubai foi cerca de 3h, quando saí da porta de desembarque tive de apanhar um metro para ir para a outra porta de embarque, consegui conectar-me à internet por uma hora e falar algum tempo com a Silvana e informá-la por onde andava. Só faltava mais um avião e, desta vez, o mais difícil de todos, com 9h de viagem até Lisboa. 
Deu tempo para tudo: dormir, ver filmes, ver documentários, ler... o pior foi quando começou a doer-me o joelho por estar sentado há demasiado tempo. Não arranjava posição confortável, mas lá cheguei a Lisboa. Estavam à minha espera o meu sobrinho, o meu irmão e, claro, a Silvana! Dali fui direitinho a casa, os meus pais estavam desejosos de me ver e, assim que cheguei e os cumprimentei, reparei nas lágrimas que estavam prestes a saltar do rosto dos meus velhotes - afinal tinha estado um mês em África, uma viagem arriscada mas que felizmente correu bem. Estava finalmente em casa! Tive os tios do lado da minha mãe presentes para um almoço com polvo grelhado - que saudades que eu já tinha! E depois de matar as saudades de casa e de estar com a família, nada melhor que ir até à praia, ver o pôr do sol...

Assim termina esta aventura, da qual me recordarei para o resto da minha vida! 
Venho com uma nova mentalidade, com outra atitude, vivi experiências que recomendo a todas as pessoas, pois nos dão uma grande lição. Vemos as pessoas felizes com o pouco que têm, crianças radiantes por nós estarmos ali, um povo sempre simpático e acolhedor, felizes à sua maneira!
Aos meus colegas atletas, aquilo é outro mundo, é um mundo super competitivo e um espírito brutal para treinar. Qualquer atleta de meio-fundo deve obrigatoriamente fazer um estágio naquela vila!

Assim me despeço pela última vez:
Um abraço directamente da Atalaia - Lourinhã

domingo, 6 de dezembro de 2015

Iten - Home of Champions - week IV

A iniciar a minha penúltima semana com mais um treino logo bem cedo pela manhã - uma manhã um pouco cinzenta com bastante nevoeiro e vento - lá fomos nós para um percurso de "sobe e desce". Não é que, a certa altura, temos de interromper o nosso treino por breves momentos? Uma manada de vacas estava a obstruir o nosso caminho. Já não era a primeira vez que este tipo de situação acontecia, mas das outras vezes, com algum cuidado, conseguíamos passar em modo de corrida lenta. Já desta era mais difícil.

O Charlie Grice tem sentido algumas dores num pé devido às irregularidades que as estradas apresentam, pois são todas em terra batida. Por vezes está um sol forte, depois chove muito e isso causa buracos no piso, o que para o treino é complicado. Desta vez os meus colegas acabaram um pouco mais cedo do que eu e eu fiz um treino mais longo sozinho.
Da parte da tarde fomos dar uma volta até algumas lojas de Iten, basicamente em "lojas de corrida". Fui eu, o Charlie e o fisioterapeuta de Inglaterra (Alex), mais umas raparigas turcas. Uns queriam comprar uns ténis, o Alex queria alguma roupa de corrida do Kenya e foi giro vê-los a regatear os preços com a dona da loja. As raparigas, que praticamente não sabem falar inglês, até usavam o telemóvel para mostrar à dona quanto queriam pagar: punham os números na calculadora e mostravam, depois era a dona a emendar os números (ahah), cada um a puxar para o seu lado, uma situação muito engraçada. Enquanto eles continuavam a discutir, eu fui a uma outra loja de ténis, mas eram todos em segundo mão (ou pé)! Aproveitei para tirar uma foto, pois nunca tinha visto uma loja assim na minha vida!




Na vinda, aproveitei para parar numa barraca aqui perto do centro, onde fazem pulseiras personalizadas e têm também algumas recordações para venda; então mandei fazer a minha! Terça-feira foi dia de fazer séries e, mais uma vez, a pista de terra batida Kamariny Stadium estava sobrelotada, com grupos de 15/20 atletas. Chegámos e, desta vez, tinha comigo o meu telemóvel para registar o momento!

Tirei algumas fotos e até fiz um vídeo engraçado, onde mostro uma pequena parte do espírito que se vive nesta pista. Posso utilizar tudo e mais alguma coisa para tentar descrever, mas é impossível!


E se fores atleta e quiseres perceber, não fiques em casa, precisas mesmo de cá vir, viver, sentir e no fim sair daqui com uma mentalidade completamente renovada
A manhã esteve alegre pois, para além do ambiente vivido, esteve sempre um sol bastante bom. É claro que depois do nosso treino de séries fomos directos para a piscina, relaxar os músculos e apanhar algum sol ao som das músicas que os ingleses punham nas suas colunas portáteis. Da parte da tarde fui buscar a pulseira personalizada que tinha encomendado no dia anterior. Conseguem tentar imaginar como pedi que ficasse? Então cá vai, uma pulseira com o nome pelo qual mais sou reconhecido no mundo do atletismo "ROLIM", com a bandeira de Portugal e, claro, com a bandeira do Quénia! Pedi um rebordo dourado para ficar mais engraçado e digam-me lá se não ficou brutal?


Começou a chover e optei por descansar da parte da tarde, pois o treino da parte da manhã tinha sido forte e deixou-me bastante cansado. Fomos jogar um pouco de ping-pong para ocupar a tarde com boa disposição!
Quarta-feira e, novamente, mais um treino bi-diário para fazer (era bom que fosse passear ou fazer um safari, mas estou aqui é para treinar) e lá fomos nós fazer uma volta pelo meio do campo numa estrada de terra batida, e desta vez o Charlie já tinha recuperado e tivemos mais uma companhia - de um Mexicano (Daniel) que já está cá há 3 meses e ainda vai ficar até Fevereiro! Eu dava em maluco. Está bem que isto é bom, temos qualidade de vida para treinar e descansar, mas minha rica caminha, que me espera em Portugal! 
A primeira parte do treino era sempre a descer, uma maravilha! Sem fazer quase esforço nenhum, lá íamos nós a bom ritmo. O pior era quando começavam as subidas, de 1 a 2 Km, em que só vemos metade delas e pensamos que acaba lá ao fundo, mas quando lá chegamos há uma curva e a subida continua. Nas nossas cabeças só está um pensamento: quando é que chegamos à "main road" (estrada de alcatrão que liga Iten a Eldoret)? Da parte da tarde estava bom tempo, então aproveitei para lavar a roupa (já o tinha feito antes, não foi só agora!), e como é esta minha tarefa tão divertida? Nada melhor do que lavar roupa no chuveiro, com um sabão amarelo que eles utilizam para várias coisas. Lá estou eu a esfregar a roupa do lado de fora do chuveiro, joelhos no chão, a tentar tirar aquela terra vermelha das meias e da roupa! Não é nada fácil, pois a terra teima em não sair, os joelhos começam a doer como tudo... acho que, na minha última semana, vou levar uns quilinhos de terra a mais na minha mala para Portugal!

Na quinta-feira fomos fazer séries pela manhã mas, como choveu na noite anterior, a pista de terra batida estava com alguma lama, o que tornou um pouco impossível fazer séries nela, então fomos para a pista de tartan, desta vez só 3 atletas (eu, o Henry e a Adelle), mais 2 treinadores de bicicleta. Fizemos todos um excelente treino e, hoje, foi o dia em que me senti pior no final. Doía-me as pernas, a cabeça parecia inchada e os braços com mais um quilo cada um. Esta é a penúltima semana e os treinos começam a ser mais intensos. 




Mas como é preciso "não abusar a toda a hora" e controlar o cansaço, da parte da tarde fomos fazer um pouco de corrida contínua, a ritmo moderado/lento. No final deste dia, só conseguia pensar "só falta mais uma semana de treinos", tenho o voo marcado para a outra sexta-feira, por isso já não conta! Apesar de esta ser uma experiência inesquecível e certamente que gostaria de a repetir, as saudades que sinto da nossa terrinha são imensas. Às vezes vejo as pessoas queixarem-se a toda a hora que "Portugal isto, Portugal aquilo", mas de todos os países que já visitei, este é mesmo o melhor. O atletismo têm-me dado a oportunidade de conhecer mais de metade da Europa (só agora saí do Continente) e, pela minha experiência, não há nada como a nossa comida, não há um clima tão bom como o nosso, não há nada como as nossas praias, resumindo, não há nada como a minha terrinha! Na sexta-feira, a começar logo pela manhã, fiz um treino de corrida contínua bem cedinho, ainda sob um nevoeiro cerrado - como na maior parte das manhãs, e fomos até à pista de terra batida onde não se conseguia ver o outro lado da pista! No regresso, logo à saída da pista, temos uma rampa que já está marcada como a pior rampa de Iten e não há uma única vez que a suba sem pensar mal dela, pois "rebenta" literalmente comigo. E, por azar, comecei a sentir uma dor na perna esquerda, junto à virilha, que não sei se foi devido à subida ou se ao treino do dia anterior ter sido forte e ter provocado alguma mazela, mas o que sei é que sentia a dor mais intensa quando fazia subidas. A partir daquele momento, optei assim por descansar da parte da tarde. Parece ser bom ter uma tarde de descanso, mas psicologicamente leva uma pessoa um pouco abaixo estar a tarde toda a pensar naquela dor, com receio que ela se mantenha e te impeça de treinar no dia seguinte, etc. Tentei repousar ao máximo e usei algumas vezes um aparelho de electro-estimulação "compex" que a Federação me emprestou, e que sempre dá para tentar remediar algum azar que aconteça!


Felizmente, no sábado, senti-me bem no aquecimento que fizemos até à pista de terra batida. Já não sentia dores na perna, o que me motivou bastante para as séries. Desta vez era só eu e o Henry, com a companhia do treinador Joel. O treinador Craig (do Henry), já em Inglaterra, enviou-nos o treino no dia anterior, e que treino! Era um treino longo e intenso, que o Henry não aguentou nem metade. Tínhamos combinado puxar as séries à vez, mas à terceira já sentia a respiração ofegante dele e comecei a perceber que ele não estava em condições. Ajudei-o e continuei a puxar - ele só tinha que manter o ritmo atrás de mim, mas chegou a uma altura que encostou, e eu também já sentia alguma dificuldade, pois o treino não era nada fácil, mas acabei por conseguir finalizá-lo. A pista estava deserta, o que achámos bastante estranho, mas pensámos que seria o dia de treino longo dos kenyanos, mas mais tarde viemos a saber que houve uma prova de 10 Km na qual o Asbel Kiprop foi o vencedor. Perdi a oportunidade de o ver correr ao vivo, este gigante dos 1500m que ganhou recentemente o mundial!
Podes espreitar aqui o vídeo que também carreguei na minha página oficial do Facebook:

Hoje a pista era só minha!!! Estás ansioso por saber como correu esta semana??Amanhã haverá um novo resumo!
Posted by Emanuel Rolim - Página Oficial on Saturday, December 5, 2015


A seguir ao almoço ficou uma tarde espetacular e aproveitei para apanhar um pouco de sol. Nem meia hora aguentei, pois estava um calor abrasador! Devido ao treino ter sido bastante intenso da parte da manhã, resolvi descansar para recuperar para o treino longo do dia seguinte, então passámos uma boa parte da tarde a jogar ping-pong, em duplas. Desta vez era eu, o Dan, o Spencer e o filho do treinador Jon, o Finley. Jogamos várias partidas e fomos trocando de equipas entre nós. Praticamente todos os jogos foram renhidos até ao fim, pelo que ninguém saiu desanimado. No final ninguém sabia se tinha ganho mais vezes do que perdido; foi acima de tudo uma boa tarde (competitiva) de ping-pong! Domingo de manhã é, mais uma vez, dia de treino longo, o último treino longo aqui no Quénia! Fomos novamente para o percurso da semana passada: saímos do centro a correr, direitos a Iten, e depois virámos para uma estrada de terra batida que vai dar ao parque de girafas. Mal entrámos na estrada de terra batida, vimos que ia ser um treino interessante, tudo cheio de lama devido à chuva que tinha caído no dia anterior. Mais à frente tinha um riacho a atravessar a estrada, onde a semana passada - com um salto - conseguimos facilmente passar. Mas desta vez tivemos de passar mesmo pelo meio da água!

Chegava quase aos joelhos e foi uma sorte não ter caído. Já mesmo nas últimas passadas dentro de água escorreguei um pouco, pois não via onde punha os pés. Passando o rio tínhamos uma enorme rampa, de aproximadamente 2 Km sempre a subir. Com os ténis cheios de lama, cada perna pesava pelo menos mais 1 Kg (ou pelo menos era essa a sensação) e lá continuámos nós, até que a lama foi saltando, os ténis secando e os quilómetros passando. Eu e o Charlie fomos os que fizemos mais Km's e chegámos perto do parque das girafas, entrámos na carrinha que nos acompanhou ao longo do percurso e consegui descobrir mais duas girafas - estavam bem longe mas consegui distingui-las da vegetação! O parque das girafas é fácil de identificar, pois tem uma montanha muito íngreme.

A tarde foi tranquila, passada entre a piscina, o sol e os jogos de ping-pong - relaxar ao máximo para finalizar em grande mais uma semana! Com isto, falta sensivelmente uma semana, mal posso esperar para chegar a casa e (nunca pensei em dizer isto) comer um bom peixe grelhado! Não gostava nada, mas de há uns anos para cá fui-me habituando a comer de vez em quando, e agora (durante um mês sem comer peixe) é uma sensação mesmo estranha. Começo a enjoar desta comida, é boa mas é sempre o mesmo. Neste tempo todo comemos peixe só duas vezes e devia ser de água doce; o sabor era muito estranho! Tenho saudades dos meus cozinhados, das minhas sobremesas e claro, da comida da minha mãe! No próximo sábado ao jantar já estarei a matar todas essas saudades...
Um abraço diretamente de Iten - Quénia.